quarta-feira, 30 de setembro de 2009

LIVROUma gota de sangue - Demétrio Magnoli

Em entrevista ao programa Milênio do Globo News, Demétrio Magnoli fala sobre o conceito de raça - tema de seu livro "Uma gota de sangue", publicado pela Editora Contexto



Uma Gota De Sangue,



http://www.youtube.com/watch?v=wKn1OjbV6CQ&feature=related

Uma - Historia Do Pensamento Racial
Autor:
MAGNOLI, DEMETRIOEditora: CONTEXTOAssunto: HISTÓRIA
Há 100 mil anos, poucas dezenas de seres humanos saíram da África. Seus descendentes, adaptando-se aos diferentes climas, desenvolveram inúmeras tonalidades de cor da pele. Um dia, alguns voltaram. Primeiro, como comerciantes, adquiriram cativos escravizados pelos próprios conterrâneos. Depois, como conquistadores, impuseram o poder de suas nações sobre a África, alegando que os primos que ficaram faziam parte de uma raça distinta. A pretexto de fazer o bem, traçam-se fronteiras sociais intransponíveis, delineadas com as tintas de uma memória fabricada. Este livro conta a história de um engano de 200 anos - o tempo da invenção, desinvenção e reinvenção do mito da raça.

Raças e cotas por - Contardo Calligaris


As cotas só afirmam as diferenças com as quais sonham os racistas? Ou podem mudar algo?
PERTENCEMOS A uma única espécie: a espécie humana.Quanto a isso não há dúvida, visto que procriamos alegremente sem que as diferenças étnicas ou raciais atrapalhem o bom funcionamento sexual e reprodutivo. Mas só 250 anos atrás, na América do Norte e na França, foi proclamado o princípio de que, por pertencermos à mesma espécie, temos todos os mesmos direitos, independentemente de etnia, cultura, religião, gênero, berço e cor (da pele, do cabelo ou dos olhos).Desde então, tal princípio vem se afirmando, aos trancos e, sobretudo, aos barrancos, por várias razões. 1) Há etnias e culturas que não topam aquela ideia proclamada 250 anos atrás.2) Não conseguimos decidir se nossa igualdade de direito deve implicar ou não uma igualdade de fato. Depois de algumas tentativas desastradas, parece que concluímos que o importante é que todos tenhamos ao menos oportunidades parecidas no começo da vida. Estamos longe disso.3) Mesmo acreditando na unidade da espécie e na igualdade dos direitos, adoramos pertencer a uma turma e continuamos enxergando um mundo dividido em nações, etnias, raças, classes, torcidas etc. Claro, prezamos nossa singularidade e, por isso, queremos ser contados um a um, como indivíduos, cada um diferente e único dentro da espécie comum. Mas também gostamos de privilégios, e os privilégios são mais "agradáveis" quando são negados a um grupo de excluídos: sala VIP só tem "graça" se os outros esperam no saguão do aeroporto. Em suma, no mínimo, a vontade de sermos singulares nos induz a criar grupos de discriminados, "diferentes" de nós.4) As vítimas dessa discriminação, na hora de invocar o princípio da igualdade de todos para obterem os mesmos direitos dos demais, são obrigadas a se constituírem como grupo. Sem isso, sua reivindicação não teria chance alguma: o protesto de um negro discriminado será sem efeito se não existir algum "movimento negro".Em tese, os grupos de vítimas da discriminação deveriam ser fundados em "identidades de defesa", ou seja, identidades que surgem provisoriamente, de maneira reativa. Por exemplo, "os negros" existem como grupo, aos olhos dos racistas, para serem discriminados; ora, a luta contra essa discriminação exige uma identidade positiva, de modo que os negros possam existir como grupo na hora de se opor à sua discriminação. No caso, eles afirmarão e valorizarão uma improvável ascendência racial comum. Problema: ao defender-se, eles darão crédito à mesma diferença inventada pelos racistas a fim de discriminá-los.O perigo é que essas identidades, adotadas para lutar contra a discriminação e permitir, enfim, uma sociedade de indivíduos iguais, acabem consolidando as próprias diferenças que tratam de abolir. Por exemplo, uma política de cotas reservadas a negros e pardos (na universidade, no emprego público e mesmo no setor privado) é uma maneira de se opor à discriminação, mas, para funcionar, ela exige que a gente acredite nas diferenças raciais e as estabeleça como parte da identidade do cidadão -que é exatamente a situação com a qual o racismo sonha desde sempre.Esse argumento é crucial no livro de Demétrio Magnoli, "Uma Gota de Sangue" (ed. Contexto), que é, ao mesmo tempo, uma excelente história e apresentação do racismo no mundo moderno e uma crítica das políticas de cotas por elas necessariamente confirmarem a existência de diferenças raciais que não têm realidade biológica e cujo fundamento histórico é o próprio racismo.Isso, logo no Brasil, onde a mistura das cores deixaria esperar um enterro mais rápido da categoria de raça.Compartilho com Magnoli o sonho de uma sociedade em que a cor da pele seja indiferente. Mas minha avaliação das políticas de cotas é "matizada". Quando cheguei nos EUA, em 94, eu pensava como Magnoli, ou seja, previa que o sistema de cotas, instituído para "compensar" os efeitos da discriminação, dividiria o país, levando-o de volta para o século 19. Não foi o que aconteceu. Aos poucos, a presença de cidadãos de todas as cores na maioria das corporações (da polícia urbana ao corpo docente das universidades) se transformou num duplo valor compartilhado por todos ou quase: um valor estético (a diversidade é bonita) e um valor produtivo (a diversidade é funcional).Até que um dia pareceu lógico, num país cujo sul inteiro foi racista e segregado, que um negro pudesse ser presidente.
ccalligari@uol.com.br

-A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.- ...Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos....
-...Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não está apenas em um de nós: está em todos nós.E conforme deixamos nossa própria luz brilhar,inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.-.Nelson Rolihlahla Mandela
, presidente da África do Sul, em visita à prisão da Ilha Robben, em 1995, onde passou parte de seus 27 anos de cadeia

sábado, 26 de setembro de 2009

Crônica Inocente ...das metamorfoses do espírito

ilustração- artista Gunars Binde
* vica além mar


Na segunda quinzena de setembro o sol rebordou os campos, terrenos baldios dentro do perímetro urbano foram tombados como patrimônio de aves, sapos, grilos e sementes de toda espécie, ancoradouro de pássaros migrantes.Não acreditem em tudo que vou contar, porém se crêem que a imaginação produz realidade convido-os a seguir adiante. Nos estacionamentos viam-se bicicletas com cestinhas e muitas meninas portando sacolas ecológicas de tecido reaproveitado.
Um gigante cor de brisa engoliu o shopping center, cuspiu um parque de diversões à moda antiga. Um carrossel movido à energia eólica divertia a garotada que das classes escolares haviam sido dispensados, afinal após o rigoroso inverno , aproveitar manhãs ensolaradas era o maior aprendizado. Risinhos como sinos ecoavam nas calçadas, buzinas foram silenciadas.
O bom humor reinava junto ao algodão doce... Pipoca colorida numa carrocinha antiga alegrava senhoras que portavam chapéus com laços feito arco-íris ... Uma gravata e alguns ternos forravam a sala dos anteriormente desabrigados, que hora trabalham de guia turísticos à nova cidade . Uma quadra de esportes surgiu do nada, bem naquele lugar horrível onde depositavam lixo à revelia. O Prefeito correu em defesa do parque aquático.Executivos, viciados em trabalho, esqueceram a hora e divertiram-se como na infância ao admirar as pombas no telhado.Inocência em dose homeopáticas foi distribuída à população gratuitamente e sem imposição...A banda tocou no viaduto a cada treze horas.
Pedestres ganharam grande privilégio.À jornada de trabalho foi incrementada, sessões de leitura, instrução e oficinas de criatividade, para quem assim quisesse...Um banqueiro visitou o presídio, ofereceu auxílio, pediu indulto aos ladrões de galinha e, ainda levou aquele gigante , o de cor de brisa , para fazer uma limpezanas galerias, alicerces da alta sociedade...Juizes ligeiramente, colocaram ordem nos papéis; dizem que foram soprados pela justiça divina...
E por aí foi se gastando a vida , com sorvete de baunilha, Palhaços e Poetas à céu aberto, gangorra, balanços de suspiros...de alívio e, de tão aliviado o guri que o pai pressionava para ser financista, filho do tal banqueiro, foi visto levitando junto ao por de sol...Tinha sonho de ser educador ambiental, músico ou marinheiro, me parece...
Ao confrontar o dragão aos leões a única alternativa cederam, assim a metamorfose se fez...

Então nestes dias burocracia perdeu valor, uma confiança e gente honesta brotou nos caules dos Lírios amarelos. Ganhara-se bastante saúde e ousadia porque a primavera assim pedia...
Bons dias de criança para vocês também !

Em verdade, não deve haver mais nenhum 'Eu quero'!" O leão não conseguirá criar novos valores, mas apenas liberdade para a nova criação. O começar de novo e a capacidade de criação somente será possível com sua transformação do leão em criança. - Nietzsche das metamorfoses do Espírito – Zaratustra

Primavera beija-flor

Primavera beija-flor
Eliana f.v. – Li Andorinha

Mesmo num dia chuvoso
a natureza me oferece
Energia-amor com sabor de sol

As nuvens ainda que cinzenta
prometem um florescer...
Da alegria em cores

Até o beija-flor faceiro
convida-me para brincar
com as gotas serenas

Sorridente meu olhar
vai ao seu encontro

Descobrindo a primavera...
No ruflar de suas penas
25 - 09 - 2009
*
a imagem do beija flor tomando banho de chuva
encontrei na net...
o interessante é que foi
essa imagem que vi da minha janela
só que o pequenino estava em um fio

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Colecionar inutilidades - Elenir Burrone

de que serve uma verde perna de louva-a-deus quebrada, risco bizarro no chão branco do terraço?
de que serve a asa de xícara atirada atrás da velha cristaleira para ocultar o delito?
de que serve a boneca careca, de incríveis olhos azuis afundados e o choro partido para sempre?
de que serve a chave esquecida cuja porta possível talvez nem exista?
inutilidade: aquilo que não nos é útil, que não usamos ou que nunca pudemos ou soubemos usar.
no entanto,aquela perna delgada sustentava uma verde esperança, portentosa no seu desenho elegante e na perspectiva arrojada de seus ângulos desafiadores. Alumbramento. Desafio. Medo. Tudo sob o salto distraído de um sapato.
a xícara testemunhara várias gerações, cuidadosamente preservada pelo carinho da herança de família, pela delicadeza do desenho sobre a porcelana e a fímbria de ouro que a enobrecia.
a boneca dera à menina solitária a irmãzinha que a vaidade lhe furtara para preservar a elegância materna.
há histórias de amor que se escrevem e há histórias de amor que se sonham. As primeiras exigem determinação, persistência para não se rotularem de ilusão apenas. As segundas preenchem a solidão dos desprovidos de ousadia.

a chave, porém, uma vez esquecida, torna inútil a existência de portas: sejam elas de abrir ou de fechar. E quantos existem que nem sabem que somos todos chaveiros e que as portas que nos são oferecidas são nossas apenas e tão infinitas quanto infinitas são as possibilidades que se oferecem às nossas chaves.

(à Virgínia que, com suas chaves inspiradas, tem aberto portas a tantos que não sabiam possuir chaves. Que a sua felicidade, neste seu aniversário, seja proporcional à generosidade com que se divide)
Beijão
elenir

Elenir Burrone Oficina Literária Pasárgada Mococa - SP tel: (19)36564048
ilustrado por virgínia tela Magritte

PARABÉNS QUERIDA AMIGA VIRGÍNIA!

Minha querida Amiga
Virgínia...
não encontro palavras
suficientes para dizer
a riqueza que tua amizade
acrescentou e ainda acrescenta
em meu bem viver
És a Amiga-irmã que os
anjinhos passarinhos
me deram de presente
Parabéns!
Muita Alegria...
Paz...e Energia Positiva
nesse... e em todos
os dias de sua vida
Com carinho
e Amizade sincera
da Eliana
24 - 09 - 2009
*essa foto tirei especialmente
para o teu aniversário*

Vânia deseja-lhe felicidades no dia de hoje



Vica querida,
Há 10 anos acompanho não só a poeta, escritora e terapeuta extraordinária, mas também a mulher generosa, inteligente, competente, amiga e extraordinariamente sensível.
E tenho certeza que no dia que você nasceu o sol era mais luminoso e brilhante. E não digo isso apenas como poeta, mas com a convicção plena que no dia 24 de setembro de sua chegada em nosso planeta nascia alguém que seria importante para a humanidade por que o dom do amor , da solidariedade e do conhecimento iam regar de mais frutos o mundo para o qual estava vindo.
Hoje é dia de seu aniversário, o dia que você nasceu e por isso mais que tudo homenageio essa data com o carinho da minha amizade eterna e inabalável.
Que esse dia de primavera florida seja repleto de amor e alegrias e que seus sonhos se realizem em todos os sentidos.

Muita paz, sucesso, saúde, amor e creia que estará sempre em meu coração como já acontece há 10 anos memoráveis.
Parabéns, com imensa ternura e amizade profunda
Beijos
Vânia Moreira Diniz

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

R E N O V A Ç ÃO - virgínia formt Efigênia AVSPE


R e n o v a ç ã o
* virgínia além mar

Quando o ar se fez caliente

Entre as folhas iniciou-se o burburinho
Pequeninos preparavam ninho
Olhar e terra acolheram semente

Esquecidos do sábado e do presente
Viam-se flores e sorvia-se vinho
Espera-se que o lar resista, permanente
Ao luar, às crises ao linho...

Quando o azul fez-se mais brilhante
Multiplicavam-se como pipas, coloridas
Pássaros, sorrisos, guirlandas

E, a nudez pálida pariu voz comovida
Ao sabor de casais de Corruíras nas varandas
E, a Primavera fez-se visível no semblante .


formt-Efigenia Coutinho Presidente Fundadora AVSPE
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:: Papéis de Carta Grupo Alfazema ::
http://br.groups.yahoo.com/group/alfazema/

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AMIGA ÁRVORE! 21-09-2009-Eliana F. Valença - Li Andorinha

AMIGA ÁRVORE!
Eliana f.v. – Li Andorinha

Mesmo com algum receio...
É maravilhosa a sensação
De subir em seus troncos...

De sentir o balançar
dos seus galhos!

Quando criança...
Em seu colo encontrei
a pura alegria de viver
Sem portas....janelas...
nem paredes...

Só a vibração contagiante
do pulsar de suas veias

Hoje contemplando-a
Faz minha alma dançar
em deliciosas lembranças
Brincando com suas folhas
***

domingo, 20 de setembro de 2009

21 de setembro


Eventos da Hora de Acordar Global por cinco minutos nesta segunda feira !

excelentes leituras
Protegendo as árvores histórico
Importância e qualidadeUma árvore é assimUma espécie brasileiraÁrvores do Brasil
Conheça as árvores do Brasil CentralÁrvores em risco de extinçãoBela e ecologicamente corretaOpinião

És o símbolo do visível e do invisível
da ligação entre o telúrico e o cósmico

És desde o princípio de todo conhecimento
e esquecimento, um vínculo...

Árvore és mãe, pai e ancestralidade

És ensinamento dos ciclos
vida, morte e renascimento

És abrigo e matriz...

Em cada uma, importância única
e fundamental

Aquele de ti olvidado
também o fez da floresta,
move-se como espectro,
esquecido do grão, do pássaro, dos veios d´água
que nutrem seu próprio tronco

Negando-te, renega não somente a ti
mas a si e à sua humanidade ...

*vica além mar

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A busca da luminosidade-Desfaço 76 anos... Rubem Alves

Desfaço 76 anos... Rubem Alves

Livro sem fim Rubem Alves

et- Depois de ter experimentado anos de extrema pobreza, Monet começa a prosperar. Em 1883 aluga uma casa em Giverny. Em 1887 expõe novamente em Nova York. Em 1890 a casa é comprada e em 1891 Monet conclui Os Montes de Feno e a série de paisagens do rio Epte. Em 1892 Monet e Alice casam-se. Cuidar do jardim torna-se uma de suas atividades preferidas, são contratados seis jardineiros para ajudá-lo nesse trabalho. É 1893 é comprado também um terreno vizinho onde Monet constrói o jardim aquático, que seria sua grande fonte de inspiração nos anos seguintes.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ser humano: poético e prosaico - Leonardo Boff - 13 set 09

Disse um dos mais inspirados poetas alemães Friedrich Hölderin (1770-1843):”é poeticamente que o ser humano habita a Terra”. Completou-o mais tarde um pensador francês, Edgar Morin: ”é também prosaicamente que o ser humano habita a Terra”. Poesia e prosa além de gêneros literários, expressam dois modos distintos de ser.


A poesia supõe a criação que faz com que a pessoa se sinta tomada por uma força maior que ela, que lhe traz conexões inusitadas, iluminações novas, rumos novos. Sob a força da criação, a pessoa canta, sai da rotina e assume caminhos diferentes. Emerge então o xamã que se esconde dentro de cada um, aquela disposição que nos faz sintonizar com as energias do universo, que capta o pulsar do coração do outro, da natureza e do próprio Deus. Por esta capacidade se desocultam supreendentes sentidos do real.


“Habitar poeticamente a Terra” significa senti-la como algo vivo, evocativo, grandioso e mágico. A Terra são paisagens, cores, odores, imensidão, fascínio e mistério. Como não se extasiar diante da majestade da floresta amazônica com suas árvores quais mãos ao alto tentando tocar as nuvens, com o emaranhado de seus cipós e trepadeiras, com as nuances sutis de seus verdes, vermelhos e amarelos, com os trinados das aves e a profusão de frutos?


Como não quedar-se boquiaberto pela imensidão das águas que se espraiam mato adentro e descem molemente para o oceano? Como não sentir-se tomado de temor reverencial quando se anda horas e horas pela floresta virgem como me tocou várias vezes com Chico Mendes? Com não sentir-se pequeno, perdido, bichinho insignificante face à incontável biodiversidade? Habitamos poeticamente o mundo quando sentimos na pele o frescor da manhã, quando padecemos sob a canícula do sol a pino, quando serenamos com o cair esmaecido da tarde, quando nos invade o mistério da escuridão da noite. Estremecemos, vibramos, nos enternecemos, nos aterramos extasiados diante da Terra em sua inesgotável vitalidade e no encontro com a pessoa amada. Então todos vivemos o modo de ser poético.


Lamentavelmente, são cegos e surdos e vítimas da lobotomia do paradigma positivista moderno aqueles que vêem a Terra simplesmente como laboratório de elementos físico-químicos, como um conglomerado desconexo de coisas justapostas. Não. Ela é viva, Mãe e Pacha Mama.


Mas habitamos também prosaicamente a Terra. A prosa recolhe o cotidiano e o dia-a-dia cinzento, feito de tensões familiares e sociais, com os horários e os deveres profissionais, com discretas alegrias e disfarçadas tristezas. Mas o prosaico esconde também valores inestimáveis, descobertos depois de longa internação num hospital ou quando regressamos, pressurosos, após penosos meses fora de casa. Nada mais suave que o desenrolar sereno e doce dos horários e dos afazeres caseiros e profissionais. Temos a sensação de uma navegação tranquila pelo mar da vida.


Poético e prosaico convivem, se complementam e se revezam de tempos em tempos. Temos que zelar pelo poético e pelo prosaico de nossas vidas, pois ambos se complementam e estão ameaçados de banalização.


A cultura de massas desnaturou o poético. O lazer que seria ocasião de ruptura do prosaico foi aprisionado pela cultura do entretenimento que incita ao excesso, ao consumo de álcool, de drogas e de sexo. É um poético domesticado, sem êxtase, um desfrute e sem encantamento.


O prosaico foi transformado em simples luta darwiniana pela sobrevivência, extenuando as pessoas com trabalhos monótomos, sem esperança de gozar de merecido lazer. E quando chega o lazer, ficam reféns daqueles que já pensaram tudo para elas, organizaram suas viagens e fabricaram-lhes experiência inesquecíveis. E conseguiram. Mas como tudo é artificialmente induzido, o efeito final é um doloroso vazio existencial. E ai dá-lhes depressivos.

Saber viver com leveza o prosaico e com entusiasmo o poético, é indicativo de uma vida densamente humana.

Leonardo Boff é autor de O despertar da águia: o dia-bólico e o sim-bólico na construção da realidade, Vozes 1999. Ilustre colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD, entre outros sítios da Rede.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Mundo Grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo, por isso me grito, por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens. A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens, as diferentes dores dos homens, sabes como é fácil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem...
sem que ele estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros, tão calma.
Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos, tão calma!
vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo desaprendi a linguagem com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo,
o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode. -
Ó vida futura!
nós te criaremos.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 13 de setembro de 2009

Alegria é ... Vânia Moreira Diniz



<... Alegria é viver, sentir amar, realizar, ter amigos, compreender, é rir de dentro para fora e sentir prazer nas pequenas coisas, alegria é reconhecer o erro e saber se desculpar sem timidez- - Vânia Moreira Diniz (clique para ler crônica na íntegra )

sábado, 12 de setembro de 2009

Sul do Brasil em alerta: chuva de setembro já supera a média-
11 de setembro de 2009
Em 11 dias, a maioria das estações já registrou quantidade igual ou superior à média histórica para setembro. Só isto já é motivo de alerta e preocupação, pois com a chuva absorvida até agora o solo já está ficando saturado e os rios cheios, alguns até alcançando a cota de alerta de transbordamento, como acontece em rios do planalto norte de Santa Catarina, área próxima da divisa com o Paraná. Daqui para frente, o risco de alagamentos, deslizamentos de encostas e transbordamento de córregos e rios só vai aumentar. A situação é de alerta permanente.


E n x u r r a d a

Neste sexto ( ?) dia chuvoso
o cinza afinal habitou-me
quero a cor de orquídeas
o perfume suave nas brisas...

As janelas lambuzadas de saudade estão
das doce caminhadas
de um por de sol intenso
do berço descoberto
das aves que adentram o coração da casa
em busca de sombra e nectar
de um regozijoso olhar

Ininterrupta chuva despetalou meu sonho primaveril
o estiolamento habita floreiras encharcadas...
e, o alegrar-se dos sapos nesta hora não me apraz...

Verifico a caixa de E mails
há uma enxurrada de repasses a vista embaralha,
já estou tonta diante da tela,
preciso de ar seco- freco,
de estrelas e um luar! -
* virgínia além mar * 12 set 09

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Flor Azul e o Pássaro de Fogo...artefilospsipoesia


Resta a dança do luar sobre a luz das manhãs
Por restar a esperança da paz no lar sonhado


Corre nos veios d´ água o encontro da poesia
com a filosofia , aquém e ao mais além do humano demasiado...


Abriga o brincar , o inútil , a arte a possibilidade de
subtrair o que distrai do mais íntimo pulsar ?


Buscando o pássaro de fogo a cada adormecer
despertar-se-á para o renascer em todas manhãs
e, na espiral celeste habitaremos sem tripudiar ?

Enquanto ao som dos riachos

são tecidos os fios das flores azuis possíveis... *virgínia além mar

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Fragmentos de Filosóficos de - Novalis e , Georg Lukács & além


Afortunados os tempos para os quais o céu estrelado é o mapa dos caminhos transitáveis e a serem transitados, e cujos rumos a luz das estrelas ilumina. Tudo lhes é novo e no entanto familiar, aventuroso e no entanto próprio. O mundo é vasto, e no entanto é como a própria casa, pois o fogo que arde na alma é da mesma essência que as estrelas. (...)
Na verdade, a filosofia é nostalgia, o desejo de se sentir em casa em qualquer lugar. -Das allgemeine Brouillon - Georg Friedrich Philipp Freiherr von Hardenberg-
cujo pseudonimo é Novalis

Eis porque a filosofia, tanto como forma de vida quanto como a determinante da forma e a doadora de conteúdo da criação literária é sempre um sintoma da cisão entre interior e exterior, um índice da diferença entre o eu e o mundo, da incongruência entre alma e ação.
Eis porque os tempos afortunados não têm filosofia, ou, o que dá no mesmo, todos os homens desse tempo são filósofos, depositários do objetivo utópico de toda a filosofia.- LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. – pg 25-
Encontrei também disponível na rede o Livro Qu'est-ce que la philosophie-
O que é a Filosofia - de Deleuze e F. Guattari, havia doado o meu e com saudades fui ao google e, achei, vou reler qualquer hora .

visite o Canal de Filosofia Espaço Ecos Portal VMD -um ppt muito bom aqui -

imagens créditos - 1 -fonte virgínia - 2- pássaro de fogo -Mateus,GabrieleMarina


quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ocidente & Oriente Afin´ação - & Sinceridade





Sinceridade -

Inúmeros conceitos são utilizados sem o seu conhecimento ( entendimento apropriação do sentido ) então os utilizamos equivocadamente .

A sinceridade implica em coerencia, honestidade, no idioma Japonês encontramos a palavra Makoto , por exemplo para designar este afeto- sinceridade = verdade interior, trata-se de um conceito filosófico-religioso budista , também utilizado pelos mestres das artes marciais , significando "falar a partir de seu coração, em concordância com seus atos."

Também podemos lembrar Confúcio "A sinceridade é o caminho do paraíso; fazer-se sincero é o caminho do homem. A sinceridade alcança o que é certo sem esforço e obtém o entendimento, sem pensar."


Um de meus pensadores prediletos do Ocidente é Gaston Bachelard com o qual concordo plenamente quando este diz que "homem que vive sinceramente suas imagens e suas palavras, recebe delas um benefício ontológico singular "


Afin´ação

Quando a musicalidade íntima cresce, esta vai como que algo-doando as franjas do tempo. As cordas do instrumento vocal afinam-se aos ritmos do pulsar clemente que existe no coração do mundo. Não há música sem ouvido atento. virgínia além mar

imagem - artista russo Vladimir Kush

Notas
1- Enquanto retocava este post ( correções) recebi o Artigo do meu querido amigo Leonardo Bofff, intitulado Zen e a Crise da Cultura Ocidental, que já está disponível em sua Coluna no Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD,

2-O tema deste Post originou-se na discussão na Comunidade do orkut Café Filosófico das Quatro ,através do tópico ...
<> crônica de Rita Ribeiro no Jornal do CF4

inspirada na citação da Psicanalista Betty Milan "Nós nos fazemos por meio da palavra, e, no entanto, a consciência disso é insuficiente. E poucos são capazes de escutar-se, e essa incapacidade é a maior razão do conflito entre as pessoas e os povos." -Betty Milan

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Edgar Morin - entrevista, Artigo e trecho do filme etc..."Você é feliz?"

''Nosso pensamento está muito preso ao passado''
Para Edgar Morin, intelectuais devem ampliar participação nas reformas do mundo atual
Antonio Gonçalves Filho


assita trecho de "Crônica de Um Verão"-
"Você é feliz?" - esta pergunta é o mote do filme do sociólogo Edgar Morin e do cineasta e etnólogo Jean Rouch que saíram colhendo as respostas nas ruas de Paris no verão de 1960

Agora, diferentemente de Dorian Gray, de Oscar Wilde, posso envelhecer em paz, pois minha obra vai se rejuvenecer para sempre na Internet.Edgar MorinSão Paulo, agosto de 2002por ocasião do lançamento do site-... Vocês deram-me a oportunidade de semear minhas idéias, de divulgar meus pensamentos, de comunicar-me com amigos conhecidos e desconhecidos.Este site é bastante inusitado, porque bastante poético; seus temas foram tão bem escolhidos por Nurimar Falci e ilustrados por André Vallias, que eles permitem ver, ao mesmo tempo, meu ser, minha vida e minhas idéias.

Nurimar Falci soube escolher as passagens que mostram que o "escrevente" é também um "escritor". Roland Barthes distinguia os escreventes, que desejam expressar uma mensagem, dos escritores, que gostam de brincar com a linguagem assim como o violinista com seu violino; que gostam de brincar com as palavras, assim como o compositor com as notas. Só por isso já me sinto muito feliz, pois gosto que as palavras brinquem entre si, que elas se divirtam, se acariciem, façam amor. Fico feliz que ele apareça, esse aspecto de mim mesmo, desconhecido por aqueles que negligenciam minha expressão em função de seu conteúdo.Eu gostaria de exprimir, nesta mensagem, duas idéias que emergiram com força em Identidade Humana.A primeira, é que nós somos pela metade sonâmbulos, pela metade despertos. "Acordados eles dormem", dizia Heráclito, que com isto acorda-nos de nosso sonambulismo. Nós somos, como dizia Pascal, ao mesmo tempo autômatos e espíritos. Somos feitos, como o sabia Shakespeare, de um estofo comum ao sonho e à vigília, mas esse estofo comum, eu não o sei decantar e isolar, nem da vigília, nem do sonho.

Eu sinto, de modo contraditório, que nosso mundo é absolutamente real, no sentido em que nada é mais real que o sofrimento, a felicidade, o amor; e que ele é absolutamente irreal, feito de aparências, de miragens, de alucinações e de ilusões, o que vem expresso nos termos Samsara e Maya.

Esse estranho sentimento mora em mim e sempre me acompanha: aquilo que é mais real é também irreal, aquilo que é mais irreal é também real.

Viver, para mim, é também inconcebível, incrível, maravilhoso e horrorizante.

A mosca, a borboleta, a viúva negra, e também o gato e o cão, trazem-me de volta sem cessar esse mistério. Porque o mistério, para mim, não está somente nos problemas insolúveis para nossa razão e nosso espírito; ele está na vida cotidiana.

A segunda idéia é que tudo o que não se regenera acaba se degenerando.

Tudo o que se encontra em estado nascente é apaixonante: um amor, uma revolução, uma infância.

Mas tudo tende também a degenerar, a enrijecer, a esclerosar-se, a degradar-se, a morrer.

Ora, a grande lição que a organização viva nos dá é que ela é capaz de regenerar-se trocando as moléculas e as células do corpo que se degradam por moléculas e células que o regeneram.

De onde a verdade do "viver de morte, morrer de vida", de Heráclito.

Um amor duradouro é um amor sem cessar re-nascente, que continuamente reencontra o enamoramento.

Para manter uma conquista, é preciso regenerá-la sem parar. Para cada um e para todos, para si mesmo e para o outro, no amor, na amizade, no avanço da idade, é necessária a regeneração permanente.

"Quem não está nascendo está morrendo", canta Bob Dylan. É uma das mais importantes lições que eu extraí dos 32 anos de trabalho e de esforço necessários para O Método.

Para progredir, é necessário reencontrar a fonte regeneradora. Ela está em cada um de nós, como estão em cada um de nós – faz pouco tempo que temos conhecimento disso – as células-tronco capazes de regenerar nossos órgãos, mas que ainda não sabemos utilizar.

Nós possuímos em nós mesmos, não a fonte da vida eterna, mas a força da juventude. Isto, mesmo na idade madura, o que muitos, adulterados antes da idade, ignoram. Garcia Márquez observava: "não digam que vocês não se apaixonam mais porque estão velhos, digam que vocês estão velhos porque não se apaixonam mais".

A fonte da juventude chama-se amor.Edgar Morin- Paris, novembro de 2001.