quarta-feira, 10 de junho de 2009

Escrivaninha III - demasiadamente humanos

Em véspera de comemorarmos aqui no Brasil o dia consagrado ao amor romântico lembro das palavras do filósofo , Médico e Psicanalista Jurandir Freire Costa em Entrevista DIÁLOGOS SOBRE O AMOR ROMÂNTICO , posterior a Publicação de seu Livro Sem fraude nem favor .

<...Hoje, boa parte da liberdade sexual sonhada pelos hippies se realizou, embora na chave individualista, típica de nossos tempos. Ou seja, estimulamos a liberdade sexual pregada pela contracultura mas jogamos fora os ideais igualitários e comunitários que justificavam aquela liberdade. ...

O amor romântico, portanto, como qualquer emoção humana, não é feito só de virtudes. Ele carrega um potencial de individualismo e preocupação obsessiva com o próprio bem-estar que pode nos tornar absolutamente indiferentes a tudo e a todos ao redor.
Não se trata, é óbvio, de “reprovar o amor” ou os que pretendem dedicar a vida à realização amorosa; trata-se de mostrar que esse objetivo não está além do bem e do mal. Existe uma grande diferença em afirmar que o amor romântico é um estado afetivo que pode nos fazer muito felizes e que, por isso, pode ou deve ser buscado por quem de direito e apresentar o romantismo como uma obrigação moral universal. No último caso, fazemos de uma possibilidade, necessidade e reforçamos a crença de que todos os que não conseguem amar, no código do romantismo, são pessoas fracassadas, frágeis, insensíveis, “não resolvidas”, do ponto de vista psicológico. O amor romântico, repito, é uma emoção mundana, comprometida, entre outras coisas, com valores estéticos e morais diretamente ligados a interesses de classe social, situação econômico-cultural e preconceitos raciais, sexuais ou religiosos dos amantes. Longe de ser uma emoção pura, inocente ou “divina”, o romantismo amoroso é uma busca de satisfação sexual e sentimental nem mais nem menos legítima do que outras às quais damos as costas por que estamos empenhados, dia e noite, em amar e ser amados.... >>