de que serve uma verde perna de louva-a-deus quebrada, risco bizarro no chão branco do terraço?
de que serve a asa de xícara atirada atrás da velha cristaleira para ocultar o delito?
de que serve a boneca careca, de incríveis olhos azuis afundados e o choro partido para sempre?
de que serve a chave esquecida cuja porta possível talvez nem exista?
inutilidade: aquilo que não nos é útil, que não usamos ou que nunca pudemos ou soubemos usar.
no entanto,aquela perna delgada sustentava uma verde esperança, portentosa no seu desenho elegante e na perspectiva arrojada de seus ângulos desafiadores. Alumbramento. Desafio. Medo. Tudo sob o salto distraído de um sapato.
a xícara testemunhara várias gerações, cuidadosamente preservada pelo carinho da herança de família, pela delicadeza do desenho sobre a porcelana e a fímbria de ouro que a enobrecia.
a boneca dera à menina solitária a irmãzinha que a vaidade lhe furtara para preservar a elegância materna.
há histórias de amor que se escrevem e há histórias de amor que se sonham. As primeiras exigem determinação, persistência para não se rotularem de ilusão apenas. As segundas preenchem a solidão dos desprovidos de ousadia.
de que serve a asa de xícara atirada atrás da velha cristaleira para ocultar o delito?
de que serve a boneca careca, de incríveis olhos azuis afundados e o choro partido para sempre?
de que serve a chave esquecida cuja porta possível talvez nem exista?
inutilidade: aquilo que não nos é útil, que não usamos ou que nunca pudemos ou soubemos usar.
no entanto,aquela perna delgada sustentava uma verde esperança, portentosa no seu desenho elegante e na perspectiva arrojada de seus ângulos desafiadores. Alumbramento. Desafio. Medo. Tudo sob o salto distraído de um sapato.
a xícara testemunhara várias gerações, cuidadosamente preservada pelo carinho da herança de família, pela delicadeza do desenho sobre a porcelana e a fímbria de ouro que a enobrecia.
a boneca dera à menina solitária a irmãzinha que a vaidade lhe furtara para preservar a elegância materna.
há histórias de amor que se escrevem e há histórias de amor que se sonham. As primeiras exigem determinação, persistência para não se rotularem de ilusão apenas. As segundas preenchem a solidão dos desprovidos de ousadia.
a chave, porém, uma vez esquecida, torna inútil a existência de portas: sejam elas de abrir ou de fechar. E quantos existem que nem sabem que somos todos chaveiros e que as portas que nos são oferecidas são nossas apenas e tão infinitas quanto infinitas são as possibilidades que se oferecem às nossas chaves.
(à Virgínia que, com suas chaves inspiradas, tem aberto portas a tantos que não sabiam possuir chaves. Que a sua felicidade, neste seu aniversário, seja proporcional à generosidade com que se divide)
Beijão
elenir
Elenir Burrone Oficina Literária Pasárgada Mococa - SP tel: (19)36564048
ilustrado por virgínia tela Magritte