sexta-feira, 25 de junho de 2010

Divagações II – virgínia além mar


Ao andar pela cidade, diariamente por quarenta e cinco minutos, muitos pensamentos e reflexões me assolam. Penso quando a noite no computador, irei registrar tais considerações. Retorno ao trabalho e a inspiração é tragada pelas angústias e dores dos pacientes. Entrego-me e esqueço da Poesia, da reflexão e cota de alegre descoberta mental. A noite enfim sento-me frente ao PC na esperança de que a bela idéia retorne mas ao contrário um branco absoluto instala-se. Como não bastasse a si mesma, a falta traz consigo um sentimento de total desnecessidade de algo registrar, como se aquilo, o isto que me pareceu de alguma importância já não a tivesse e num disparate desnecessário tornara-se.



Então procuro por uma palavra que traduza a palidez casta da lua as cinco da tarde. Rogo por uma expressão capaz de, ligeiramente, capturar as cores da água que corre e leva consigo imagens ribeirinhas. Persigo um adjetivo que defina a abóboda celeste regada de misteriosa lentidão, indiferente a pressa humana soprada pelo hálito das vinte horas. Reviro um dicionário mental sem encontrar o signo que transcenda o delírio dos amantes ...



São estes todos meus particulares invernos, como se a neve dos pólos em meu cérebro estivesse...



Mas é de fato inverno no sul, menos rigoroso mas típico, com manhãs geladas, chuva abundante e algumas flores da estação amenizando meios dias de mãos nos bolsos e pés enfiados em meias e botas deixando abafados dedinhos que sentem uma saudade danada de pisar em cálidas areias e transpirar livremente.



Um olé é necessário; temos agasalhos e por aqui grandes calamidades não houveram.



Borbulha no frasco que contem frágil existência, uma herança; fragrância dos trópicos quimeras da primavera eterna a soprar é a vida e nela cabem lembranças e sobretudo esquecimentos e a eles brindo pois que outono com sucesso alcançou seu final e consigo tantas crianças e fizeram-nos crer que as que vivem no céu sorriem, por doce inocência e latente uma palavra ressurge no horizonte entre raios e trovões desta noite; vida !