domingo, 27 de novembro de 2011

Benvinda Palma - Versos & direção

vai pra você, como presente de Natal, estes versinhos, como prova de meu profundo carinho por você!


... os meus amigos eu desenho
em papel pergaminho
com tinta de todas as cores
deixo pendurados em meu carinho
nas telas da emoção,
emoldurados com ouro
afinal, são meu tesouro
merecem o lugar das flores...
no jardim do coração.! -    Benvinda Palma
        
Link p. Recanto das Letras da Poetisa http://www.recantodasletras.com.br/autores/benvindapalma

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O BEIJO QUE NÃO DEI -Antonio Augusto Bandeira

O BEIJO QUE NÃO DEI -Antonio Augusto Bandeira


Gosto muito de Buenos Aires. Já escrevi que, para mim, é uma cidade européia dentro da América Latina.

Nesta caminhada lembrei de muito do passado. Da minha estada com amigos, o Botão e o Adilar,do encontro com a filha e mulher do meu querido amigo falecido Dante, de outras passagens, de lugares e acontecimentos.

Não fui de excursão, revi lugares conhecidos, buscando sempre o novo.

Uma das coisas que me chamou atenção foi ver homens beijando homens. Não eram gays.Casais se encontrando , esposas se beijando, maridos também.

Estranhei. mas o fato se repetia sempre na naturalidade do que é natural.

Para nós.brasileiros, estranho!.

Quando meu pai estava morrendo, achava que era tuberculose e não era, lembro que entrei no seu quarto e lhe disse que sabia seu pensamento, mas não era verdadeiro, e que as gurias podiam entrar.

O coitado, de feliz, ficou com lágrimas nos olhos e o máximo de carinho que consegui fazer foi passar a mão na sua testa.

Pois este beijo que não dei, foi uma das recordações que tive neste passeio á Buenos Aires.

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domingo, 13 de novembro de 2011

SOBRE OS MEDOS-Conferências do Estoril 2011 - Mia Couto

http://www.youtube.com/watch?v=jACccaTogxE&feature=player_embedded#!
Mia Couto, nascido António Emílio Leite Couto (Beira, 5 de Julho de 1955), é um biólogo e escritor moçambicano. Iniciou os estudos universitários em medicina, mas abandonou esta área no princípio do terceiro ano, passando a exercer a profissão de jornalista depois do 25 de Abril de 1974. Foi nomeado diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e formou ligações de correspondentes entre as províncias moçambicanas durante o tempo da guerra de libertação. A seguir trabalhou como diretor da revista Tempo até 1981 e continuou a carreira no jornal Notícias até 1985. Em 1983, publicou o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho, que inclui poemas contra a propaganda marxista militante. Dois anos depois, demitiu-se da posição de diretor para continuar os estudos universitários na área de biologia.Além de considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. Em 2007, foi entrevistado pela revista Isto É. Foi fundador de uma empresa de estudos ambientais da qual é colaborador.

sábado, 5 de novembro de 2011

Finados de antanho e de hoje

Finados de antanho e de hoje

Finados de minha infância era mamãe toda de preto, com véu de renda para colocar na cabeça, fosse na igreja, fosse no cemitério.
Papai exigia roupa sóbria, até para as crianças. Nada de vestidinho muito fresco, com ou sem calor. Em casa não se tocava música nem alta nem baixa, nem popular, nem mesmo clássica. A novela do rádio ficava para o dia seguinte.
Ninguém ousava perguntar por que: Dia dos Mortos e pronto. Não se discutia. O almoço frugal contrastava com o do cotidiano de casa de português. Convinha ao dia tristonho. Nem uma taça de vinho, ainda que pequena fosse. Água pura e olhe lá.
- Dia dos Mortos é uma grande tristeza -, dizia papai. Só eu já perdi meus pais e um irmão mais novo que eu. Não posso nem quero me alegrar. Que Deus os guarde!
Minha mãe, bem menos religiosa, também se calava. Nem cantarolava suas melodias prediletas. Olhos meio úmidos, ia aos afazeres de antes da missa em silêncio consternado.
- Meninas, andem rápido porque o cemitério fica bem longe, lá do outro lado da cidade. E tem gente assim -. E fazia o gesto de abundância com os dedos.
Tudo pronto às oito horas, no máximo, rumo à igreja pedir a Deus que perdoasse os pecados dos mortos e dos vivos, coisa difícil de entender. Para mim, morto não tinha mais pecado. Mas cadê coragem de perguntar sobre matéria religiosa a meu pai, bispo-leigo de Niterói, como o chamavam os da igreja do bairro?
No cemitério, constrição absoluta, interrompida apenas para arrumar as flores brancas na lápide preta. Choro baixo; nada de escândalos. Bate-papo engolido, algazarra nem se fala.
Depois de uns dez anos de repetição do ritual, o povo cristão de minha cidade começou a invasão dos cemitérios no dia sagrado. Flores de cera substituiram as naturais, porque de maior duração. Escassas flores de verdade, com cara de meio-velhas, espalhavam-se pelo chão. Quem não tinha levado nada, as surrupiava dos outros túmulos, sem nenhum prurido.
Exceto, claro, os que guardavam a sete chaves os mausoléus dos ricaços de Niterói, banqueiros e empresários que não precisavam ir à reza no cemitério: pagavam um zelador, uns dois moleques e pronto. No máximo, iam à missa na paróquia perto de casa, deixavam os nomes de todos os mortos em cestas de vime ou caixas de papelão, logo entupidas de recados.
Nossa família mudava muito pouco de hábitos. Talvez comesse melhor e se vestisse de luto aliviado preto e branco, em tempos posteriores, não sei mais. Somente depois de nossa adolescência envergonhada de tanta comemoração de gente morta que nem conhecíamos, diminuiram-se as exigências até praticamente à extinção. Até mesmo para minha mãe. As moçoilas ouviam música sem escândalo, assistiam às novelas do rádio em tom baixo, vestiam-se de roupa leve por causa do quase-verão. Embora calça comprida tivesse demorado a ser aceita por meu pai, por ser vestuário “típico de homem”.
Namoro, casamento, formatura de irmão, maior independência da família... substituiram o fanatismo falso de quase todos. Ufa!
A sociedade brasileira começou a se declarar católica de boca somente, e o Dia dos Mortos foi mudando, mudando...tornando-se mais um feriado no calendário repleto de folgas, de nosso país apegado a uma boa-vida.
Sei que ainda há os que respeitam o dia, sobretudo na missa solene. São poucos. Aqui no Rio, parece que as pessoas que não têm muito programa vão ao cemitério, lugar de movimento, de agitação.mais do que de prece. Betem papo, escondem-se do sol, sofrem pouco, muito pouco mesmo, para nenhuma falta dos mortos, tenho certeza.
Eu mesma, confesso, deixei de ir ao cemitério com regularidade. Sinto-me mal ao ver o túmulos de minha avó, de meus pais, de meus amigos e imagino que viver na memória para sempre é o que realmenteinteressa. Faço da missa o local de meus sentimentos mais sinceros e fico melhor assim.
Já no meu bairro do Rio de Janeiro, agigantado pela invasão da propaganda da Globo nas novelas, os bares e restaurantres pululam de gente às gargalhadas, como se dissessem Morreu, morreu, ante ele do que eu. Houve até mesmo desfile de pessoas fantasiadas de mortos ensanguentados, com nas festas do México. Não me conformo.
Talvez chegue a hora em que lembrar os mortos será sentimento privado, não obrigatório, sem feriado instituído por governos para dizer que o Brasil é um país católico. Esquecidos do montão de evangélicos, de judeus, de pretos e brancos da macumba, talvez de muçulmanos que ousam proclamar a religião de Maomé.
E os que realmente amaram seus finados, irão homenageá-los cada qual a seu modo. Derramarão umas lágrimas de saudade “ palavra doce que nasce do coração/ A saudade é um sentimento que não tem definição?
Maria Lindgren