"A amizade é um amor que nunca morre."
Mario Quintana ( ???)
domingo, 11 de novembro de 2012
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Bom dia poéticamente ...31 08 012
"oceano' imaginário
entre as brumas
meus olhos navegam
e a copa dos montes
ilhas queridas contemplo
ah! o mar está em tudo
lugar ...Fotos amanhecer 06:30 H. 31 08 012 Nhamburgo RS BR vista para o norte Morro do Chapéu (Sapucaia do Sul)
Hoje a Lua entra em sua fase CHEIA ,
o amanhecer mostra o dia como a infância o homem...então...parece-me que teremos grande espetáculo!
abraços a todos , virgínia vicamf http://www.facebook.com/virginiavica
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Regener´ação
Voar
é magnífico...! “Correr é arriscar-se”- dizia meu pai...
Ao
entardecer o sol apressa-se a esconder-se
As
cores empalidecem e sugerem;
Aquieta-te,
silencie, escute, desacelere corpo e mente
Medite,
comungue “Re pouse”! * Virgínia vicamf
Foto do amigo Fiapo Carlos Araujo de Novo Hamburgo RS BR
Local da paisagem Sarandi RS BR
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Solitude - * virgínia além mar poetinha
Solitude - * virgínia além mar poetinha
Já tive muito medo de decepcionar as pessoas que prezava, mas este foi menor que a percepção de que era uma diferença e esta me condenava a liberdade do devir. O caminho é solitário, perigoso, por vezes íngreme e árido, entretanto é tudo que posso chamar de meu ...
afetuosamente virgínia
vicamf EBooks
vicamf EBooks
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
L.Boff -(novo Tx.)"realismo esperançador"A razão em fase de larva e de casulo
A razão em fase de larva e de casulo
Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo
Quem
leu meus últimos textos sobre ecologia e a situação dramática da Terra,
colheu talvez a impressão de pessimismo. Não pode ser pessimista quem
se dá conta dos reais riscos que pesam sobre nosso destino. Devemos
honrar sempre a realidade. Mas, ao mesmo tempo, cumpre alargar a
compreensão da realidade. Esta é maior do que se mostra pois o que é
potencial nela é também parte do real. Há sempre uma reserva utópica,
presente em todos os eventos. Se compreendermos a realidade assim
enriquecida, não se justifica um pessimismo fechado, mas um realismo
esperançador. Este capta a eventual irrupção do novo, escondido dentro
do potencial e do utópico. Este novo faz então história e funda um outro
estado de consciência e inaugura um ensaio social diferente.
Ademais,
se tomarmos distância e medirmos nosso tempo histórico com o tempo
cósmico, teremos mais razões ainda para a esperança. Se condensarmos num
ano o tempo cósmico, os 13,7 bilhões de anos - a idade presumida de
nosso universo – notaríamos que como humanos existimos há apenas uma
pequeníssima fracção de tempo. Segundo cálculos do cosmólogo Brian
Swimme, assim,
a 31 de dezembro às 17.00 horas nasceram nossos antepassados
pré-humanos. A 31 de dezembro às 22.00 horas entrou em cena o ser humano
primitivo. A 31 de dezembro às 23 horas, 58 minutos e 10 segundos
surgiu o homem de hoje chamado de sapiens sapiens.
A 31 de dezembro às 23.00 horas, 59 minutos e 56 segundos nasceu Jesus
Cristo. A 31 de dezembro às 23.00 horas 59 minutos e 59,2
segundos Cabral chegou ao Brasil. Como se depreende, somos temporalmente quase nada.
Além
disso, se tomamos em conta as 15 grandes dizimações que a Terra
conheceu, especialmente, aquela do Cambriano, há 570 milhões de anos, na
qual entre 75-90% do capital biótico desapareceu, verificamos que a
vida sempre resistiu e sobreviveu. E se nos concentramos apenas no ser
humano, sobreviveu sempre às muitas glaciações. Mais ainda, ocorreu um
processo altamente acelerado de encefalização. A partir de 2,2 milhões
de anos emergiram, sucessivamente, o homo habilis, erectus, e nos últimos cem mil anos, o homo sapiens, já
plenamente humano. Seus representantes eram seres sociais, se mostravam
cooperativos e manejavam a fala, característica humana.
No arco de um milhão de anos, o cérebro destes três tipos de homo duplicou em volume. Após o aparecimento do homo sapiens,
surgido há 100 mil anos, o cérebro não mais cresceu. Não havia mais
necessidade, pois surgiu o cérebro exterior, a inteligência artificial
que é a capacidade de conhecer, criar instrumentos e artefatos para
transformar o mundo e criar cultura, característica singular do homo sapiens sapiens.
A
partir do neolítico, cerca de dez mil anos atrás, surgiram as primeiras
cidades que deram origem à cultura elaborada, ao estado, à burocracia e
também à guerra. Começou também uma sistemática utilização da razão
instrumental para dominar a natureza, conquistar e subjugar os outros.
Obviamente lá estavam também outros tipos de razão como a emocional, a
simbólica e a cordial, mas submetidas à regência da razão
instrumental que desde então assumiu a hegemonia, até a sua culminância
em nosso tempo, razão, a um tempo, criativa é também destrutiva.
O
processo da borboleta nos oferece uma sugestiva metáfora. A borboleta
não nasce borboleta. Ela é no início um simples ovo que se transforma
numa larva, devoradora insaciável de folhas. Depois ela se enrola sobre
si mesma na forma de um casulo (crisálida). Dentro dele, a natureza tece
seu corpo e desenha suas cores. Quando tudo está pronto, eis que se
rompe o casulo e emerge esplêndida borboleta.
Nós
estamos ainda no estágio de larva e casulo. Larva, porque, dia e noite,
devoramos a natureza; casulo, porque fechados sobre nós mesmos, sem
ver nada ao nosso redor.
Qual
a nossa esperança? Que a razão rompa o casulo e emerja qual
razão-borboleta. Talvez a situação atual de alto risco force o
nascimento da razão-borboleta. Ela esvoaça por ai, não é destrutiva mas
cooperativa, pois poliniza as flores.
Estamos
ainda em gênese. Não acabamos de nascer. Nascidos, vamos respeitar
e conviver com todos os seres. Teremos para sempre superado a fase de
larva e de casulo. Como borboletas, seremos portadores da razão sensata
que nos premia com um futuro sem ameaças.
imagem fonte http://elizabethfdeoliveira.blogspot.com.br/2009/04/revoada.html
*-*
* Tex. recebido por
EMail do Autor para publicação e divulgação , este é Colaborador do
Canal de Filosofia do Espaço Ecos - Portal VMD http://www.vaniadiniz.pro.br/espaco_ecos/filosofia_virginia/filosofia.htm
formt. virgínia vicamf
domingo, 29 de julho de 2012
L.Boff-Coração ferido: a irracionalidade da razão
"...Foi uma decisão
cultural altamente arriscada a de confiar exclusivamente à razão
subjetiva a estruturação de toda a realidade. Isso implicou numa
verdadeira ditadura da razão que recalcou ou destruíu outras formas de
exercício da razão como a razão sensível, simbólica e ética,
fundamentais para a vida social. ... urge resgatar a razão sensível e cordial para
se compor com a razão instrumental. Aquela se ancora do cérebro
límbico, surgido há mais de duzentos milhões de anos, quando, com os
mamíferos, irrompeu o afeto, a paixão, o cuidado, o amor e o mundo dos
valores. Ela nos permite fazer uma leitura emocional e valorativa dos
dados científicos da razão instrumental. Esta emergiu no cérebro
neocortex há apenas 5-7 milhões de anos. A razão sensível nos desperta o
reencantamento e o cuidado pela vida e pela mãe-Terra...."
Coração ferido: a irracionalidade da razão
por Leonardo Boff -Teólogo/Filósofo
Não
estamos longe da verdade se entendermos a tragédia atual da humanidade
como o fracasso de um tipo de razão predominante nos últimos quinhentos
anos. Com o arsenal de recursos de que dispõe, não consegue dar conta
das contradições, criadas por la mesma. Já analisamos nestas páginas
como se operou a partir de então, a ruptura entre a razão objetiva (a
lógica das coisas) e a razão subjetiva(os interesses do eu). Esta se
sobrepôs àquela a ponto de se instaurar como a exclusiva força de
organização histórico-social.
Esta
razão subjetiva se entendeu como vontade de poder e poder como
dominação sobre pessoas e coisas. A centralidade agora é ocupada pelo
poder do "eu", exclusivo portador de razão e de projeto. Ele gestará o
que lhe é conatural: o individualismo como reafirmação suprema do "eu".
Este ganhará corpo no capitalismo cujo motor é a acumulação privada e
individual sem qualquer outra consideração social ou ecológica. Foi uma
decisão cultural altamente arriscada a de confiar exclusivamente à razão
subjetiva a estruturação de toda a realidade. Isso implicou numa
verdadeira ditadura da razão que recalcou ou destruíu outras formas de
exercício da razão como a razão sensível, simbólica e ética,
fundamentais para a vida social.
O ideal que o "eu" irá perseguir irrefreavelmente será um progresso
ilimitado no pressuposto inquestionável de que os recursos da Terra são
também ilimitados. O infinito do progresso e o infinito dos recursos
constituirão o a priori ontológico e o parti pri fundador desta refundação do mundo.
Mas
eis que depois de quinhentos anos, nos damos conta de que ambos os
infinitos são ilusórios. A Terra é pequena e finita. O progresso tocou
nos limites da Terra. Não há como ultrapassá-los. Agora começou o tempo
do mundo finito. Não respeitar esta finitude, implica tolher a
capacidade de reprodução da vida na Terra e com isso pôr em risco a
sobrevivência da espécie. Cumpriu-se o tempo histórico do capitalismo.
Levá-lo avante custará tanto que acabará por destruir a sociabilidade e o
futuro. A persistir nesse intento, se evidenciará o caráter destrutivo
da irracionalidade da razão.
O mais grave é que o capitalismo/individualismo introduziu duas
lógicas que se conflitam: a dos interesses privados dos “eus” e das
empresas e a dos interesses coletivos do “nós” e da sociedade. O capitalismo é, por natureza, antidemocrático. Não é nada cooperativo e é só competitivo.
Teremos alguma saída? Com apenas reformas e regulações, mantendo o
sistema, como querem os neokeynesianos à la Stiglitz, Krugman e outros
entre nós, não. Temos que mudar se quisermos nos salvar.
Para tal, antes de mais nada, importa construir um novo acordo entre
a razão objetiva a a subjetiva. Isso implica ampliar a razão e assim
libertá-la do jugo de ser instrumento do poder-dominação. Ela pode ser
razão emancipatória. Para o novo acordo, urge resgatar a razão sensível e cordial para
se compor com a razão instrumental. Aquela se ancora do cérebro
límbico, surgido há mais de duzentos milhões de anos, quando, com os
mamíferos, irrompeu o afeto, a paixão, o cuidado, o amor e o mundo dos
valores. Ela nos permite fazer uma leitura emocional e valorativa dos
dados científicos da razão instrumental. Esta emergiu no cérebro
neocortex há apenas 5-7 milhões de anos. A razão sensível nos desperta o
reencantamento e o cuidado pela vida e pela mãe-Terra.
Em seguida, se impõe uma nova centralidade: não mais o interesse privado mas o interesse comum, o respeito aos bens comuns da Humanidade e da Terra destinados a todos. Depois a economia precisa
voltar a ser aquilo que é de sua natureza: garantir as condições da
vida física, cultural e espiritual de todas as pessoas. Em continuidade,
a política deverá se construir sobre uma democracia sem fim,
cotidiana e inclusiva de todos seres humanos para que sejam sujeitos da
história e não meros assistentes ou beneficiários. Por fim, um novo
mundo não terá rosto humano se não se reger por valores ético-espirituais compartidos, na base da contribuição das muitas culturas, junto com a tradição judaico-cristã.
Todos
esses passos possuem muito de utópico. Mas sem a utopia afundaríamos no
pântano dos interesses privados e corporativos. Felizmente, por todas
as partes repontam ensaios, antecipadores do novo, como a economia solidária, a sustentabilidade e o cuidado vividos como paradigmas de perpetuação e reprodução de tudo o que existe e vive. Não renunciamos ao ancestral anseio da comensalidade: todos comendo e bebendo juntos como irmãos e irmãs na Grande Casa Comum.
< *-* >
Leonardo Boff e autor de Virtudes para um outro mundo possível, 3 vol.Vozes 2009.
* Tex. recebido por EMail do Autor para publicação e divulgação , este é Colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos - Portal VMD http://www.vaniadiniz.pro.br/espaco_ecos/filosofia_virginia/filosofia.htm
quarta-feira, 11 de julho de 2012
a PRÁTICA DO PRAZER... filosofia
trechinho da aula do Prof. Claudio
Ulpiano sobre Lucrécio e Espinosa 16-06-1994
"(...)Pela
Vênus Voluptas, a alegria e a prática do prazer se dariam integralmente. Então,
apareceu uma coisa muito estranha. É que nós estamos vendo uma filosofia se
confrontar com algo considerado pelos homens, talvez, como o mais importante de
suas vidas ― que é o amor.
Então, essa filosofia está surpreendentemente
afirmando que o amor ― de maneira alguma ― nos traria a felicidade. E essa
filosofia é toda ela dedicada às PRÁTICAS; e ela diz que há duas práticas ― a
PRÁTICA DO PRAZER e a PRÁTICA DA DOR. E ela vai afirmar que o amor é aquilo que
nos traz muita dor ― porque nós dependeríamos permanentemente de alguma coisa
exterior a nós mesmos. Enquanto que Vênus Voluptas, que é a amizade,
comunidades de amizade gerando prazeres, independentemente de relações de
qualquer um com qualquer um, não nos conduziria a essa posição do amor. Faria
aparecer o que é mais importante na vida ― que é a liberdade. A liberdade seria
conseguida pela Vênus Voluptas, mas seria impedida pelo Eros....
(...)Então, aqui vocês recebem a
informação principal do que é exatamente a minha maneira de trabalhar em
filosofia: a filosofia, a arte e a ciência ou a vida só têm um instrumento de
libertação ― o pensamento. Então, isso se torna simples? Não. Isso se torna
muito complexo, porque a partir de então, nós temos que verificar o que é o
pensamento.(...)
(...)
Porque o sujeito psicológico que nós somos é constituído por associações de
idéias. Nós vamos passando de uma idéia para outra, de um fato para outro: diz
outra coisa meu amigo! Aí nós vamos conversando de uma coisa para outra, de uma
coisa para outra, aí não abandonamos nunca o sujeito psicológico que nós somos.
Para entrar no pensamento é fazer esse percurso em direção aos mundos
possíveis, é sobretudo quebrar essas associações de idéias. Porque essas
associações de ideias são exatamente a doxa e aquilo que nos dá um conforto,
uma segurança. Nós passamos a achar que está tudo bem, que está tudo tranquilo,
que está tudo calmo: não está; não está! Nós estamos diante do caos. Nós
estamos diante do caos, nós estamos diante do vazio e é o pensamento que tem
que confrontar com ele e de lá trazer alguma coisa. (...)
Vocês,
então, têm aqui a tríade: sujeito psicológico, objeto e pensamento. Como minha
primeira exposição de pensamento, o pensamento seria, no caso do Espinosa, o
que ele vai chamar de ideia expressiva. A ideia expressiva é porque o
pensamento é aquilo que expressa esses mundos possíveis, enquanto que o sujeito
manifesta as suas psicologias. Nós vamos diferir um sujeito humano ― ele está
sempre manifestando os seus fantasmas, as suas biografias… E quando você lê
esses textos de best
seller, os sujeito é sempre fantástico (não é?). É sempre um sujeito
fantástico, que é diferente do que o Proust está dizendo do pensamento ― que é
a entrada nos mundos possíveis. Isso vai se chamar idéia expressiva. (Eu
acho que foi bem, não é?). Chama-se IDÉIA EXPRESSIVA, no sentido de que
expressa os mundos possíveis. E o sujeito é aquele que manifesta a sua
psicologia.
(fim de
fita)
Parte 2
A
representação representa os nossos estados psicológicos, a nossa biografia, os
nossos fantasmas. Enquanto que a expressão, a idéia expressiva, à diferença da
idéia representativa, (aí que vai começar a ficar difícil, eu vou fazer um
esforço enorme para vocês entenderem…), a idéia expressiva não expressa o
psicológico. Ela vai expressar o que em Proust chama-se mundos possíveis e em
Espinosa chama-se terceiro gênero do conhecimento. Aí, veja bem, é possível que
nós possamos dizer algo que não seja da nossa psicologia, dizer algo que está
em nós, mas não é psicológico. É como se fosse uma unidade diferente, alguma
coisa que nos pertencesse, mas não fosse nosso; alguma coisa do espírito, mas
não da nossa biografia, não da nossa subjetividade. Ou seja, a função da arte
não é contar os nossos sofrimentos pessoais, a função do pensamento não é dizer
da nossa história, da nossa biografia, mas é expressar isto que eu estou
chamando de mundos possíveis. (Dois pontos, que eu vou começar a explicar. Acho
que foi bem outra vez, não é?).
O que eu
quero que vocês marquem, que não se esqueçam, é a distinção entre idéia
expressiva e idéia representativa ― e a propriedade que eu coloquei na idéia
representativa, que é a distância. Isso daqui é fundamental no momento em que a
gente for trabalhar em arte. Que a distância faz parte da representação. E um
outro fato que eu distingui, fiz uma distinção entre manifestações psicológicas
e expressões de alguma coisa que está dentro, mas que não é psicológico.
(Então,
vamos fazer essa passagem, eu vou para dois minutinhos para tomar um café.
Podem perguntar também).
É o que
vocês vão fazer para fazer o uso da vida de vocês. Ou seja, tornar esse planeta
magnífico ou, mais do que nunca, torná-lo paranóico e insuportável, como ele é.
Quase que já explodindo, de tão insuportável que ele é.(...)
toda aula do Prof. Claudio
Ulpiano sobre Lucrécio e Espinosa 16-06-1994 http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=2891
ilustração - Vênus de
Bouguereaul
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Leonardo Boff-O impossível pacto entre o lobo e o cordeiro
"...Isso me reporta ao comentário cínico de
Napoleão depois da batalha de Eylau ao ver milhares de soldados mortos sobre a
neve:” Uma noite de Paris compensará tudo isso”. Eles continuam recitando o
credo: um pouco mais do mesmo, de economia
e já sairemos da crise. É possível o pacto entre o cordeiro(ecologia) e
o lobo(economia)? Tudo indica que é impossível....)
O impossível pacto entre o lobo e o
cordeiro
Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo
Post Festum, podemos dizer: o documento final da Rio+20 apresenta
um cardápio generoso de sugestões e de propostas, sem nenhuma obrigatoriedade,
com uma dose de boa vontade comovedora mas com uma ingenuidade analítica
espantosa, diria até, lastimável. Não é uma bússula que aponta para o “futuro
que queremos” mas para a direção de um abismo. Tal resultado pífio se tributa à
crença quase religiosa de que a solução da atual crise sistêmica se encontra no
veneno que a produziu: na economia. Não se trata da economia num sentido
transcendental, como aquela instância, pouco importam os modos, que garante as
bases materiais da vida. Mas da economia categorial, aquela realmente existente
que, já há muito tempo, deu um golpe a todas as demais instâncias (à política,
à cultura e à ética) e se instalou, soberana, como o único motor que faz andar
a sociedade. É a “Grande Transformação” denunciada ainda em 1944 pelo grande economista húngaro-norteamericano Karl Polanyi.
Este tipo de economia cobre todos os espaços da vida, se propõe acumular
riqueza a mais não poder, tirando de todos os ecossistemas, até à sua exaustão,
tudo o que seja comercializável e consumível, se regendo pela mais feroz
competição. Esta lógica desequilibrou todas as relações para com a Terra e
entre os seres humanos.
Face
a este caos Ban Ki Moon, Secretário Geral da ONU, não se cansa de repetir na
abertura das Conferências: estamos diante das últimas chances que temos de nos
salvar. Enfaticamente em 2011 em Davos diante dos “senhores do dinheiro e da
guerra econômica”declarou:”O atual modelo econômico mundial é um pacto de
suicídio global”. Albert Jacquard, conhecido geneticista francês, intitulou
assim um de seus últimos livros:”A contagem regressiva já começou?”(2009). Os
que decidem não dão a mínima atenção aos alertas da comunidade científica
mundial. Nunca se viu tamanha descolagem entre ciência e política e também
entre ética e economia como atualmente. Isso me reporta ao comentário cínico de
Napoleão depois da batalha de Eylau ao ver milhares de soldados mortos sobre a
neve:” Uma noite de Paris compensará tudo isso”. Eles continuam recitando o
credo: um pouco mais do mesmo, de economia
e já sairemos da crise. É possível o pacto entre o cordeiro(ecologia) e
o lobo(economia)? Tudo indica que é impossível.
Podem
agregar quantos adjetivos quiserem a este tipo vigente de economia,
sustentável, verde e outros, que não lhe mudarão a natureza. Imaginam que limar
os dentes do lobo lhe tira a ferocidade, quando esta reside não nos dentes mas
em sua natureza. A natureza desta economia é querer crescer sempre, a despeito da devastação da natureza e da vida. Não
crescer é prescrever a própria morte. Ocorre que a Terra não aquenta mais esse
assalto sistemático a seus bens e serviços. Acresce a isso a injustiça social,
tão grave quanto a injustiça ecológica. Um rico médio consome 16 vezes mais que
um pobre médio. Um africano tem trinta anos a menos de expectativa de vida que
um europeu (Jaquard, 28).
Face
a tais crimes como não se indignar e não exigir uma mudança de rumo? A Carta
da Terra nos oferece uma direção segura :”Como nunca antes na história, o
destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Isto requer uma mudança na
mente e no coração; requer um novo sentido de interdependência global e de
responsabilidade universal...para alcançarmos um modo sustentável de vida nos
níveis local, nacional, regional e global”(final). Mudar a mente implica um novo olhar sobre a Terra não como o
“mundo-máquina” mas como um organismo
vivo, a Terra-mãe a quem cabe respeito e cuidado. Mudar o coração significa superar a ditadura da razão técnico-científica e
resgatar a razão sensível onde reside o sentimento profundo, a paixão pela
mudança e o amor e o respeito a tudo o que existe e vive. No lugar da
concorrência, viver a interdependência global, outro nome para a cooperação e
no lugar da indiferença, a responsabilidade universal, quer dizer, decidir enfrentar juntos o risco global.
Valem
as palavras do Nazareno:”Se não vos converterdes, todos perecereis”(Lc 13,5).
Leonardo Boff é autor de Proteger a Terra-cuidar da vida.Como evitaro fim do mundo, Record 2011.
***********************************************************************************
Texto recebido por EMail do Autor para leitura e divulgação, este é Colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD
Ilustração obra do Atista Marciano Schmitz http://www.facebook.com/marciano.schmitz
sexta-feira, 22 de junho de 2012
L. Boff Teólogo e Filósofo Os termos da discussão ecológica atual
"...A
Rio_20 mostrou que os países industrializados não querem abdicar da sua
posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os
países pobres querem ser emergentes...." "...A
pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental
sempre teve um caráter regional, sendo reversíveis ou não. O ocidente
foi a civilização que calçou as botas mais pesadas conhecidas até o
momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.
A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia)
passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua
cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou
também a pisar fundo no ambiente...."
Os termos da discussão ecológica atual Leonardo Boff Teólogo e Filósofo
A Rio+20 provocou vasta discussão sobre questões ecológicas. Nem
todos entendem os termos técnicos da temática. Publicamos aqui um artigo
do mais conhecido ecologista do Estado do Rio, Arthur Soffiati, de
Campos de Goytacazes,RJ, fundador do Centro Norte Fluminense para a
Conservação da Natureza e publicada no dia 14 de maio de 2012 na Folha
da Manhã daquela cidade. Eis a palavras principais: Ecodesenvolvimento,
desenvolvimento sustentável, economia verde, pegada ecológica,
antropoceno.
Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar
naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande
glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o
líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes,
formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes.
Os cientistas deram a esta fase nova o nome de Holoceno.
Nesses últimos 11 mil anos, restou dos Hominídeos apenas o “Homo
sapiens”, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem
desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e
domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária, criou
tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a
metalurgia. Logo a seguir, criou cidades, impérios, represas, drenagem e
irrigação. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos
ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que
contribuíram para o seu fim.
Entra, então, o conceito de pegada ecológica. Ele se refere ao grau de
impacto ecológico por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma
sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização
ocidental sempre teve um caráter regional, sendo reversíveis ou não. O
ocidente foi a civilização que calçou as botas mais pesadas conhecidas
até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o
mundo.
A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia)
passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Impôs sua
cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou
também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra grande transformação com a revolução industrial,
cuja origem localiza-se na Inglaterra do século XVIII. Ela se expandiu
pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores
de matéria prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade
planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global,
devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido
do solo, urbanização maciça, alterações profundas nos ciclos de
nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, adelgaçamento da camada
de ozônio e extração excessiva de recursos naturais não-renováve is,
que, por sua vez, produz quantidades inauditas de lixo.
Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno
(holos=inteiro+koinos=novo), a ação humana coletiva no capitalismo e no
socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes na história da
Terra porque gerada por uma só espécie. Eles estão denominando o período
pós-revolução industrial do século XVIII de Antropoceno, ou seja, uma
fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano
(antropos=homem+koinos=novo).
Em função dessa grande crise ou dessa nova época é que a Organização
das Nações Unidas vem promovendo grandes conferências internacionais,
como as Conferências de Estocolmo (1972), Rio-92 e, proximamente, a
Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja
conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja
buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do
desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive
antagônicos ao original.
A Conferência Rio+20 pretende colocar em pé de igualdade as dimensões
ambiental, social e econômica. A palavra mágica, agora, é economia
verde, cujo conteúdo não apresenta clareza. Supõe-se que, no mínimo,
signifique a substituição progressiva de fontes de energia
carbono-intensivas por fontes renováveis de energia, bem como a
substituição de recursos não renováveis por renováveis.
A
Rio_20 mostrou que os países industrializados não querem abdicar da sua
posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os
países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento
acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e
desenvolvimento econômico. Por conseguinte, o ambiente é mais importante
que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar
solução para os outros dois. Por outro lado, o conceito de
ecodesenvolvimento parece ser o mais correto enquanto tática e
estratégia.
*************************************************************************
Ilustração mestre Escher -
et- " O discurso de Hamidan terminou com um pedido para que os chefes de
Estado mudem o documento: “mas não acreditamos que isso [a conferência]
acabou. Vocês estão aqui por mais três dias. E vocês ainda podem
inspirar a nós e ao mundo. Será uma vergonha se vocês vieram aqui apenas
para assinar o documento. Nós pedimos que vocês tenham a vontade
política de mudar essa posição e assim nós iremos aplaudi-los como
nossos verdadeiros líderes”.
Assinar:
Postagens (Atom)