domingo, 29 de janeiro de 2012

AssociaçãoInternacionalPoetasdelMundo: 03.12 - DIVULGANDO POETAS DEL MUNDO

AssociaçãoInternacionalPoetasdelMundo: 03.12 - DIVULGANDO POETAS DEL MUNDO:


Virgínia F Momberger Agradeço a Emabixadora dos Poetas del Mundo Delasnieve Daspet, pela consideração em plublicar nesta edição meu Poema in de finitivo amar
E na Edição anterior meu TX. Convergências entre Fábulas, Obras Ficcionais e a Atitude Filosófica . Honrada abraço minha nobre Poeta e mestra amiga de mais de 15 anos de convivência na Rede Delasnieve Daspet.

Desejando parabenizar também todos Poetas Del Mundo por sua contuda reta, elegância, coragem e TALENTO. abraço afetuoso e grata, vossa virgínia fulber * além mar poetinha DEL MUNDO desde 2006- ( Virgínia f. Momberger ) no face...


afetuoso abraço, virgínia fulber Quando um coração se abre , lê textos sagrados em toda parte, em livros, nas nuvens que passam no céu, nas pedras que restam na terra . Rev. Shaku Shogyo- Gustavo C. Pinto XI Conf. Bienal da Ass. Inter. de Est. de Buddhismo Shin. Berkelev EUA agost 03 .

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Guardas Chuva ?

Guardas Chuva ?



                  virgínia fulber * além mar poetinha




Guardanapos transformados
Em bloco de notas, chapéu, baquinho
Origames e bilhetinho sedutor


O Guarda chuva transportava
lágrimas de despedida
de uma tarde fria...


Gotas tantas transformaram-se
em riacho que levou, barquinho,
notas, chapéu, origames; pato,
flor e desmanchou bilhetinho de amor...


Guardou-se tanto que o guarda
da guarita pediu passaporte
Bagagem pesada; alerta dobrado!


Coração rasgado virou do avesso
como velho guarda chuva ao vendaval
Se guardas chuvas perdes arco íris, versos e mel!

Publicado no Recanto das Letras -

fonte -Iustração -

sábado, 21 de janeiro de 2012

A reivenção do capital/dinheiro - Leonardo Boff-Teólogo/Filósofo



Atualmente grande parte da economia é regida pelo capital financeiro, quer dizer, por aqueles papéis e derivativos que circulam no mercado de capitais e que são negociados nas bolsas do mundo inteiro. Trata-se de um capital virtual que não está no processo produtivo, este que gera aquilo que pode ser consumido. No financeiro, reina a especulação, dinheiro fazendo dinheiro, sem passar pela produção. Vigora um perverso descompasso entre o capital real e o financeiro. Ninguém sabe exatamente as cifras, mas calcula-se que o capital financeiro soma cerca de 600 trilhões de dólares enquanto o capital produtivo, do conjunto de todos os paises, alcança cerca 580 trilhões. Logicamente, chega o momento em que, invertendo a frase de Marx do Manifesto, “tudo o que não é sólido se desmancha no ar”.

Foi o que ocorreu em 2007/2008 com o estouro da bolha financeira ligada aos imóveis nos EUA que representava um tal volume de dívidas que nenhum capital real, via sistema bancário, podia saldar. Havia o risco da quebra em cadeia de todo o sistema econômico real. Se não tivesse havido o socorro aos bancos, feito pelos Estados, injetando capital real dos contribuintes, assistiríamos a uma derrocada generalizada.

Esta crise não foi superada e possivelmente não o será enquanto prevalecer o dogma econômico, crido religiosamente pela maioria dos economistas e pelo sistema com um todo, segundo o qual as crises econômicas se resolvem por mecanismos econômicos. A heresia desta crença reside na visão reducionista de que a economia é tudo, pode tudo e que dela depende o bem-estar de um pais e de um povo. Ocorre que os valores que sustentam uma vida humana com sentido não passa pela economia. Ela garante apenas a sua infra-estrutura. Os valores resultam de outras fontes e dimensões. Se assim não fosse, a felicidade e o amor estariam à venda nos bancos.

Este é o transfundo do livro de alta divulgação Reinventando o capital/dinheiro de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012). Rose é uma conhecida escritora com mais de 35 livros publicados e uma diligente editora com cerca de 1600 títulos lançados. Num intenso diálogo, juntos trabalhamos, por mais de vinte anos, na Editora Vozes. Dois temas ocupam sempre sua agenda: a questão feminina e a questão da cultura tecnológica. Foi ela quem inaugurou oficialmente o discurso feminino no Brasil escrevendo livro com um método inovador: A sexualidade da mulher brasileira (Vozes 1993). Com um olhar perspicaz denunciou o poder destruidor e até suicida da tecno-ciência, especialmente, em seu livro: Querendo ser Deus? Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade (Vozes 2009).

Neste livro Reinventando o capital/dinheiro faz um histórico do dinheiro desde a mais remota antiguidade, seguindo um esquema esclarecedor: o ganha/ganha, o ganha/perde, o perde/perde e a necessária volta ao ganha/ganha se quisermos salvar nossa civilização, ameaçada pela ganância capitalística.

Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e os níveis de juros compostos.

Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza. Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos.

Mas devido ao controle do capital, o ganha/ganha não consegue se impor. Mas sua força interna irá inaugurar uma nova era, quem sabe, até com uma moeda universal, sugerida pelo economista brasileiro Geraldo Ferreira de Araujo Filho, cujo valor não incluirá apenas a economia mas valores como a educação, a igualdade social e de gênero e o respeito à natureza e outros. Rose aposta nesta lógica do ganha/ganha, a única que poderá salvar a natureza e nossa civilização.

O livro de Rose Marie Muraro pode ser adquirido por 0800 160004.
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Ilustração - virgínia fulber -

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Jardim Botânico de Porto Alegre 21 -01-012- Grande Escuta da Mãe Terra- - VOZES-


Grande Escuta da Mãe Terra-21 de janeiro- VOZES- Jardim Botânico de Porto  Alegre ://transnet.ning.com/profiles/blog/show?id=2018942%3ABlogPost%3A129078


FSTemático 2012-II Tecendo Redes de Saberes e Cooperação no Jardim Botânico de Porto Alegre - RETRAN transnet.ning.com


II Tecendo Redes de Saberes e Cooperação Data: 27 e 28 de Janeiro de 2012 Hora: 9h às 17h Local: Jardim Botânico de Porto Alegre – Fundação Zoobotânica RS


CLIQUE NO LINK PARA VER A PROGRAMAÇÃO http://transnet.ning.com/profiles/blogs/fstematico-2012-ii-tecendo-redes-de-saberes-e-cooperacao-no-jardi

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sustentabilidade: tentativa de definição - Leonardo Boff-( *Novo* Artigo)

(Artigo recebido por EMail do Autor em 14 de Janeiro de 2012- que periodicamente é  Publicado como Colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD http://www.vaniadiniz.pro.br/espaco_ecos/filosofia_virginia/colaboradores.htm entre outros Sites )

*Leonardo Boff 
                    Teólogo/Filósofo

Há hoje um conflito entre as várias compreensões do que seja sustentabilidade. Clássica é a definição da ONU, do relatório Brundland, (1987) “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Esse conceito é correto mas possui duas limitações: é antropocêntrico (só considera o ser humano) e nada diz sobre a comunidade de vida (outros seres vivos que também precisam da biosfera e de sustentabilidade).Tentarei uma formulação, o mais integradora possível:

Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informaconais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução.

Expliquemos, rapidamente, os termos desta visão holística:

Sustentar todas as condições necessárias para o surgimento dos seres: estes só existem a partir da conjugação das energias, dos elementos físico-químicos e informacionais que, combinados entre, si dão origem a tudo.

Sustentar todos os seres: aqui se trata de superar radicalmene o antropocentrismo. Todos os seres constituem emergências do processo de evolução e gozam de valor intrínseco, independetente do uso humano.

Sustentar especialmente a Terra viva: a Terra é mais que uma “coisa” (res extensa), sem inteligência ou um mero meio de produção. Ela não contém vida. Ela mesma é viva, se autoregula, se regenera e evolui. Se não garantirmos a sustentabilidade da Terra viva, chamada Gaia, tiramos a base para todas as demais formas de sustentabilidade.

Sustentar também a comunidade de vida: não existe, o meio ambiente, como algo secundário e periférico. Nós não existimos: coeexistimos e somos todos interdependentes. Todos os seres vivos são portadores do mesmo alfabeto genético básico. Formam a rede de vida, incluindo os microorganismos. Esta rede cria os biomas e a biodiversidade e é necessária para a subsistência de nossa vida neste planeta.

Sustentar a vida humana: somos um elo singular da rede da vida, o ser mais complexo de nosso sistema solar e a ponta avançada do processo evolutivo por nós conhecido, pois somos portadores de consciência, de sensibilidade e de inteligência. Sentimos que somos chamados a cuidar e guardar a Mãe Terra, garantir a continuidade da civilização e vigiar também sobre nossa capacidade destrutiva.

Sustentar a continuidade do processo evolutivo: os seres são conservados e suportados pela Energia de Fundo ou a Fonte Originária de todo o Ser. O universo possui um fim em si mesmo, pelo simples fato de existir, de continuar se expandindo e se autocriando.

Sustentar o atendimento das necessidades humanas: fazemo-lo através do uso racional e cuidadoso dos bens e serviços que o cosmos e a Terra nos oferecem sem o que sucumbiríamos.

Sustentar a nossa geração e aquelas que seguirão à nossa: a Terra é suficiente para cada geração desde que esta estabeleça uma relação de sinergia e de cooperação com ela e distribua os bens e serviços com equidade. O uso desses bens deve se reger pela solidariedade generacional. As futuras gerações tem o direito de herdarem uma Terra e uma natureza preservadas.

A sustentabilidade se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se refaça e ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido para as futuras gerações. Esse conceito ampliado e integrador de sustentabilidade deve servir de critério para avaliar o quanto temos progredido ou não rumo à sustentabilidade e nos deve igualmente servir de inspiração ou de idéia-geradora para realizar a sustantabilidade nos vários campos da atividade humana. Se isso a sustentabilidade é pura retórica sem consequências.

*Autor do livro Sustentabilidade: o que é e o que não é, a sair em fins de janeiro de 2012 pela Editora Vozes.

Imagem - Arte de  Rafal Olbinski  -

domingo, 8 de janeiro de 2012

LEONARDO BOFF - Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?

Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?
           
                   Por Leonardo Boff - Teólogo/Filósofo - Dom-8/1/12
   
Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruira o mundo do mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos, uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da razão critica que se expressou pela filosofia, pela política, pela democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras manifestações culturais que não cabe aqui referir.

Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos: mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e submetê-la ao projeto de sua vontade.

Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton, Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e encima dela como seu “mestre e dono”(Descartes) e coroa da criação em função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.

Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer, deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento. Agora tocamos nos limites de sua possibilidades. A civilização técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma, degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a realização de um armgedon ecológico-social.

Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros, para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero. Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial.

Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.

Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos esta conversão, ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos transformamos ou desapareceremos.

Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista-pensador:”Os homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a solidariedade”. Mas à condição de mudarmos de paradigma.
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Leonardo Boff é autor: Opção-Terra. A solução para a Terra não cai do céu, Record, Rio 2009.                    &
Colaborador do Canal de Filosofia Espaço Ecos Portal VMD
Ilustração - Grecia  sunset formt. virgínia

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

LINGUAGENS - Outro paradigma: escutar a natureza- Leonardo Boff & + Sobre os Aimaras sua lingua por Carlos Amaral Freire abaixo



Outro paradigma: escutar a natureza
       Leonardo Boff -
                         Teólogo &  Filósofo


Agora que se aproximam grandes chuvas, inundações, temporais, furacões e deslizamentos de encostas temos que reaprender a escutar a natureza. Toda nossa cultura ocidental, de vertente grega, está assentada sobre o ver. Não é sem razão que a categoria central – idéia – (eidos em grego) significa visão. A tele-visão é sua expressão maior. Temos desenvolvido até os últimos limites a nossa visão. Penetramos com os telescópios de grande potência até a profundidade do universo para ver as galáxias mais distantes. Descemos às derradeiras partículas elementares e ao mistério íntimo da vida. O olhar é tudo para nós. Mas devemos tomar consciência de que esse é o modo de ser do homem ocidental e não de todos.

Outras culturas, como as próximas a nós, as andinas (dos quéchuas e aimaras* e outras) se estruturam ao redor do escutar. Logicamente eles também veem. Mas sua singularidade é escutar as mensagens daquilo que veem. O camponês do antiplano da Bolívia me diz: “eu escuto a natureza, eu sei o que a montanha me diz”. Falando com um xamã, ele me testemunha: “eu escuto a Pachamama e sei o que ela está me comunicando”. Tudo fala: as estrelas, o sol, a lua, as montanhas soberbas, os lagos serenos, os vales profundos, as nuvens fugidias, as florestas, os pássaros e os animais. As pessoas aprendem a escutar atentamente estas vozes. Livros não são importantes para eles porque são mudos, ao passo que a natureza está cheia de vozes. E eles se especializaram de tal forma nesta escuta que sabem, ao ver as nuvens, ao escutar os ventos, ao observar as lhamas ou os movimentos das formigas o que vai ocorrer na natureza.

Isso me faz lembrar uma antiga tradição teológica elaborada por Santo Agostinho e sistematizada por São Boaventura na Idade Media: a revelação divina primeira é a voz da natureza, o verdadeiro livro falante de Deus. Pelo fato de termos perdido a capacidade de ouvir, Deus, por piedade, nos deu um segundo livro que é a Bíblia para que, escutando seus conteúdos, pudéssemos ouvir novamente o que a natureza nos diz.

Quando Francisco Pizarro em 1532 em Cajamarca, mediante uma cilada traiçoeira, aprisionou o chefe inca Atahualpa, ordenou ao frade dominicano Vicente Valverde que com seu intérprete Felipillo lhe lesse o requerimento,um texto em latim pelo qual deviam se deixar batizar e se submeter aos soberanos espanhóis, pois o Papa assim o dispusera. Caso contrário poderiam ser escravizados por desobediência. O inca lhe perguntou donde vinha esta autoridade. Valverde entregou-lhe o livro da Bíblia. Atahaualpa pegou-o e colocou ao ouvido. Como não tivesse escutado nada jogou a Bíblia ao chão. Foi o sinal para que Pizarro massacrasse toda a guarda real e aprisionasse o soberano inca. Como se vê, a escuta era tudo para Atahualpa. O livro da Bíblia não falava nada.

Para a cultura andina tudo se estrutura dentro de uma teia de relações vivas, carregadas de sentido e de mensagens. Percebem o fio que tudo penetra, unifica e dá significação. Nós ocidentais vemos as árvores mas não percebemos a floresta. As coisas estão isoladas umas das outras. São mudas. A fala é só nossa. Captamos as coisas fora do conjunto das relações. Por isso nossa linguagem é formal e fria. Nela temos elaborado nossas filosofias, teologias, doutrinas, ciências e dogmas. Mas esse é o nosso jeito de sentir o mundo. E não é de todos os povos.

Os andinos nos ajudam a relativizar nosso pretenso “universalismo”. Podemos expressar as mensagens por outras formas relacionais e includentes e não por aquelas objetivísticas e mudas a que estamos acostumados. Eles nos desafiam a escutar as mensagens que nos vem de todos os lados.

Nos dias atuais devemos escutar o que as nuvens negras, as florestas das encostas, os rios que rompem barreiras, as encostas abruptas, as rochas soltas nos advertem. As ciências na natureza nos ajudam nesta escuta. Mas não é o nosso hábito cultural captar as advertências daquilo que vemos. E então nossa surdez nos faz vitimas de desastres lastimáveis. Só dominamos a natureza, obedecendo-a, quer dizer, escutando o que ela nos quer ensinar. A surdez nos dará amargas lições.

Veja meu livro O Casamento do Céu com a Terra: mitos ecológicos indígenas, Moderna, São Paulo 2004.
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*Grifos meus-ilustração - Los aymarás(aimaras) construyen un barco de caña

- Leonardo Boff é Colaborador do Canal de Filosofia do Espaço Ecos - Portal VMD

* Sobre lingua  Iamara

" JC- Na Bolívia, encontraste um futuro "não-aristotélico" no aimara. Conta melhor essa descoberta.

Carlos A. Freire - Durante minha longa estada (dez anos) na Bolívia, onde dirigi o Centro de Estudos Brasileiros em La Paz, nomeado pelo Itamaraty, tratei logo de estudar as línguas altiplânicas, com falantes nativos. Essa experiência me foi muito valiosa, pois pouco mais tarde fui convidado a lecionar Lingüística Contrastiva na Universidade Mayor de San Andrés, em La Paz. Foi comparando as estruturas lingüísticas dessas línguas com várias outras, indo-européias ou não, que cheguei a algumas conclusões interessantes sobre as notáveis semelhanças fonéticas delas com as línguas caucásicas e das características estruturais com as línguas altaicas.
Quanto ao aimara, como demonstrou cabalmente o matemático e aimarista boliviano Guzmán de Rojas, "existe uma lógica lingüística diferente, não-aristotélica, claramente incorporada na sintaxe dessa língua".

A comunicação deficiente, ou melhor, o desentendimento multissecular entre os indígenas e os conquistadores e seus descendentes explica-se, em grande parte, devido a sua diferente cosmovisão que, no caso dos aimaras, reflete-se nitidamente em sua sintaxe através de morfemas especiais bem definidos. Nós que falamos línguas indo-européias estamos imbuídos da concepção aristotélica, dicotômica, de verdadeiro X falso, certo X errado, sim X não, e temos certa dificuldade em aceitar ou compreender a concepção trivalente: certo-errado-verossímil, do aimara, onde a ambigüidade ou o terceiro não incluído tem valor de verdade.
A fim de tornar mais claro o tipo de lógica trivalente do aimara usarei dois exemplos da notável monografia de Guzmán de Rojas, Problemática Lógico-lingüística de la Comunicación Social en el Pueblo Aimara. Quando um falante nativo aimara, expressando-se em espanhol, diz: "- Mañana he de venir nomás", as palavras usadas não coincidem com o significado que as mesmas têm em espanhol, ou teriam em português. A expressão "nomás", muito típica do espanhol popular da Bolívia e do Peru, em situações semelhantes, revela, na verdade, o pensamento aimara maltraduzido ao espanhol. Em sua língua materna usaria a frase: "- Qharürux jutätki", onde o morfema "ki" traduz ou expressa a dúvida simétrica, o terceiro valor da verdade, o que simplesmente não existe em nossas línguas. Usa, pois, a expressão 'nomás" para traduzir o sufixo "ki", indicativo apenas de verosimilhança.
Na realidade, ele quer dizer o seguinte: "amanhã pode ser que eu venha ou pode ser que eu não venha. Não estou me compromentendo". Quando diz, porém "- Mañana he de venir pues", usa o "pues" para traduzir o sufixo "pi" do aimara, que indica certeza. Assim, "- Qharüru jutätpi" é a forma aimara que corresponderia ao nosso "- Amanhã eu virei certamente, me comprometi". Vemos, portanto, que o aimara tem um futuro positivo, um futuro negativo e um futuro de dúvida simétrica. Assim que, se os nossos políticos falassem em aiamara, teriam de escolher bem o tipo de futuro a que se referem.
Andei pesquisando sobre o Guzmán de Rojas. Não sei se sabes, mas ele criou o Qopuchawi, um ICQ que traduz instantaneamente mensagens a seis idiomas.
Durante minha longa estada em La Paz, tive o privilégio de fazer amizade com Guzmán de Rojas e de acompanhar, de perto, o seu projeto. E sabes qual é a língua que usa como base para a tradução das restantes cinco? É o aimara, uma língua aglutinante de extraordinária regularidade sufixal.


Tens um estudo sobre as afinidades fonológicas entre o aimara e as línguas caucásicas, publicado pela Universidade de Sucre e traduzido ao russo....." Carlos  Amaral Freire , o maior poliglota vivo no Brasil em entrevista à Janer Cristaldo , esta entrevista - pode ser lida em seu livro Babel de Poemas  e no link http://www.blogger.com/goog_1149156705 Na realidade, a capacidade de Freire é traduzir, COM ou SEM DICIONÁRIO, textos nas 115 línguas que estudou. Carlos foi reconhecido pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, que lhe conferiu o certificado dos 2001 homens mais surpreendentes do século XX. Um homem desse merecia até ser um “Globo Repórter” especial. Lista das 115 línguas estudadas pelo professor Freire( hoje mais de 120!)

Videos no Youtube http://www.youtube.com/watch?v=ReMlJbyfFIY


Africânder- Aimará-Albanês-Alemão-Suíço-Árabe-Aramaico-Armênio-Assírio-Azeri-Basco-Bengali-Bielo-russo-Birmanês-Bislama-Bretão-Búlgaro-Caingangue-Cantonês-Casaque-Catalão-Chinês-Coreano-Corso-Crioulo francês do Haiti-Crioulo Giné Bissau-Curdo-Dinamarquês-Egípcio-Eslavônico-Eslovaco-Esloveno-Espanhol-Esperanto-Estoniano-
Feróico-Filipino-Finlandês-Francês-Franco-provençal-Frísio-Friulano-Gaélico escocês-Galego-Galês-Georgiano-Grego clássico-Grego moderno-Guarani-Hauça (ou Hausa)-Hebraico-Híndi-Hitita-Holandês-Húngaro-Iídiche-Indonésio-Inglês-Ioruba-Irlandês-Islandês-Italiano-Japonês-Javanês-Khmer-Ladino (Dalmácia)-Ladino (Judeu-Espanhol)-Latim-Letão-Lituano-Luxemburguês-Macedônio-Maia-Malaio-Malgaxe-Maltês-Mapuche-Mongol-Náutle-Neomelanésio-Nepali-Papiamento-Pashto-Persa-Polonês-Provençal-Quíchua-Romanche-Romani (Cigano)-Romeno-Russo-Samoano-Sânscrito-Sardo-Servo-croata-Somali-Sorábio (alto)-
Sorábio (baixo)-Suaíli (Swahili)-Sueco-Tailandês-Tâmil-Tártaro-Tcheco-Tibetano-Tupi-Turco-Ucraniano-Uólof(Wolof)-Urdu-Uzbeque-Vietnamita-
Volapük-Xavante-Zulu

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Pecado Original - Elenir Burrone

Pecado Original


A alma míope
vestiu os óculos
da razão
e alumbrou-se com a beleza
que habitava o coração
FIAT LUX...
(Eterno Feminino)


Que a luz se faça para todos em 2012 e sempre

Beijão
Elenir Burrone -Oficina Literária Pasárgada -Mococa - SP tel: (19)36564048
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Ilustração enviada pela Autora

Ano Novo – mais um - Maria Lindgren


Ano Novo – mais um -
            Por Maria Lindgren*


Levo o segundo semestre do ano com medo dessa época de muitas recordações de tempos que a vida engoliu; temo chorar mais que devo ou passar os dias com aquele famoso nó nas entranhas.

Passou o Natal. Razoavelmente bem, não fora o calor de rachar exatamente no dia 24 e a falta de alguma gente da maior importância para mim. Ótima comida e bebida, em companhia dos que puderam estar. Pior seria ficar só em casa, sem celebrar como muitos a alegria do renascer de Cristo ou o Papai-Noel repleto de presentes ou ainda apenas seguindo autômatos a solidariedade de um dia, que ainda persiste no mundo cristão. Pelo menos, é o que dizem cá no ocidente, imitador eterno do que vem do Primeiro Mundo, de tradição protestante, hoje, meio chué, mas ainda Primeiro, para nós colonizados embasbacados.

A missa da manhã do dia 25 foi a melhor parte. Não por minha crença absoluta, senão pela paz ao cantar os cânticos a plenos pulmões, ao dizer A Paz de Cristo aos companheiros de assentos, ao rezar o Padre-Nosso de mãos dadas com desconhecidos, ao comungar a Hóstia Sagrada, mesmo sem confessar, o que é um enorme progresso da igreja católica. E que gosto bom tem a hóstia de hoje! Gosto do perdão aos pecadilhos, de benção do Corpo de Cristo para nossas vidas, de esperança de menos sofrimento para o mundo e para nós!

Minha igreja estava linda, enfeitada de verde e branco, com seu presépio modesto e acolhedor, o Menino numa mangedoura verde-bandeira, como a nos mostrar que, sem o verde no planeta, não sobreviveremos. Verde de esperança, por certo.

Logo em seguida, preparativos para o Réveillon magno do Rio de Janeiro e mínimo para quem não quer sair de casa, enfrentar multidões. As lojas mixurucas no Natal, porque repletas de bugigangas natalinas e desejo frenético de vender, às vésperas do Ano Novo ficam um póuco mais elegantes. Nem de longe lembram as da Quinta Avenida, em Nova York, ou as do Faubeaurg Saint-Honoré, de Paris. Em todo caso, lojas e shoppings capricham no melhor de seu gosto, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Até mesmo exibem vestidos de noite, sempre em branco ou amarelo ou em ambas as cores. Tudo com um certo brilho de tecido e luzes.

Se têm comprador, não se percebe, dado que o povo das ruas hoje, em nossa cidade, está mais para a Classe C do que para a B e muito menos, a A, que esta não se vê mais nem em revistas, depois que viraram socialites e celebridades. Ah os tempos do Ibraim Sued, do Jacinto de Thormes em que as grandes familias de banqueiros e empresários não se escondiam, como agora, do mesmo modo que não se exibia a corrupção com descaramento. Éramos enganados numa boa, ficávamos babando de inveja, e concordávamos que dinheiro grosso não era mesmo pra qualquer um, pobres de nós! E mais: aristocracia não se comprava na esquina. Vinha de gente privilegiada por Deus, eu acho. Até mesmo decorávamos os nomes importantes, até que começaram a ruir ou apenas desaparecer em nuvens nunca explicadas. Morte? Talvez. Ou mudança de feição social. Entramos na era da banalização das fortunas – vide os jogadores famosos de nosso futebol – da expansão do mau-gosto da TV Globo, do dita-moda de qualquer um...

Daí que uma frustração menor nos ataca nos preparativos do Réveillon: não admiramos N-I-N-G-U-É-M. Podemos, pois, nos voltar para os que realmente merecem a fama de extraordinários, como os artistas verdadeiros de todas as artes, os que sempre mereceram, os que agora merecem e os que virão a merecer no futuro. Menos mal.

Feliz e discreto Ano Novo, minha gente! Que de explosões estamos fartos.
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Colunista do Portal VMD - Nome: Maria José Lindgren Alves-Pseudônimo: Maria Lindgren -Emails: mlindgren202@yahoo.com.br  ou m-lindgren@uol.com.br -Mestrado em Educação – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ - 1999 Especialização em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa – Universidade Federal do Rio de janeiro – UFRJ – 1991 - Licenciatura em Letras : Português – Inglês – Universidade Federal Fluminense – UFF, 1976. - Revisora e avaliadora de textos pedagógicos do INEP/MEC, de 1999 a 2003.- Escritora literária: livro publicado: UMA ROLHA NA LÁGRIMA(coletânea de contos e crônicas)– 2004.- Contos publicados na antologia Uruguaia Cuentogotas: Encontro Inusitado, em português e Alta Fidelidad, em espanhol, Editora Bianchi Pilar, Movimento Cultural ABRACE, Montevideo, 2006.
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Ilustrado por virgínia fulber - Escultura em mármore carrara de Carlos Cesar Freire (Tito) Artista brasileiro residente na Alemanha - http://carlosfreirearts.blogspot.com/